Noite de Surpresas

Ela entrou sem sorriso, sem luz no olhar,

O rosto fechado, sem querer falar.

Senti no peito um frio a soprar,

Pensei comigo: “Isso vai demorar.”

No banho, tentei não me preocupar,

Mas a tensão pairava no ar.

Se o tempo é curto e não vai voltar,

Melhor tentar, ao menos escutar.

Perguntei seu nome, onde queria estar,

Se o mundo era justo ou só de enganar.

Aos poucos, vi um brilho brotar,

Nos olhos que antes pareciam calar.

Falamos de vida, de sonho e de dor,

De risos perdidos, de medo e de amor.

Entre uma história e um leve calor,

Aquela muralha cedeu ao sabor.

A rispidez se tornou melodia,

O tempo dançou em pura harmonia.

O quarto, antes frio, ganhou sintonia,

E a noite seguiu em doce magia.

Os olhos agora brilhavam em festa,

Sem sombras, sem medo, sem porta aberta.

O riso explodiu numa promessa,

De que há mais na vida que a pressa.

Duas horas, e o mundo girou,

O que era um encontro, o tempo mudou.

Ela já fala de amor sem pudor,

E eu, sem saber, já sou sonhador.

As palavras que antes pareciam de gelo,

Agora aquecem num tom tão singelo.

O toque suave, o beijo em desvelo,

Desmontam as dúvidas, traçam um selo.

No fundo dos olhos dela enxerguei,

Alguém que o tempo, talvez, machucou.

E se nesta noite algo eu conquistei,

Foi ver que a vida sempre ensinou.

O que era um muro virou um caminho,

O que era um quarto virou um ninho.

No rastro da noite, um doce carinho,

E o medo se foi perdido no vinho.

Ela sorriu e disse baixinho,

Quero ficar, não só por um pouquinho.

E eu, sem entender o destino daninho,

Abracei o acaso, sem medo, sozinho.

Se amanhã for sonho ou simples memória,

Pouco me importa, já valeu a história.

A vida tem dessas, desenha a vitória,

Em noites que começam sem cor nem glória.

Quem diria que o vento mudaria,

Que a sorte dançaria em pura poesia?

O encontro improvável, a noite vadia,

Virou promessa de nova alegria.