Noite Sem Amanhã

Ela dança na noite sem medo, sem rumo,

O riso solto, o copo na mão,

Parece um cometa riscando o escuro,

Sem pensar no fim da emoção.

Rodopia entre luzes e vozes, dispersa,

Como se o mundo fosse um salão,

Sem compromisso, sem cumprir promessa,

Apenas a febre da diversão.

Os olhos brilham, mas sem destino,

Busca no agora um novo prazer,

Corações são meros caminhos

Que pisa sem nunca querer.

As horas se esvaem, a música ecoa,

O calor do desejo, a pressa do instante,

Beijos roubados, palavras à toa,

Promessas vazias, amores errantes.

Mas eis que a sorte, tão desavisada,

Tropeça na curva de um gesto impensado,

E aquilo que era só madrugada

Se torna um destino trancado.

A bebida mistura a razão e o erro,

Os passos se perdem sem direção,

Na rua vazia, um frio severo,

O eco de um grito na escuridão.

Ninguém viu, ninguém sentiu,

Só o silêncio restou pra contar,

O corpo inerte, o tempo seguiu,

E o brilho dos olhos não quis mais voltar.

E quem a viu na dança insana

Não soube do fim que o acaso tramou,

Talvez nem se lembrem da moça cigana

Que um dia o destino apagou.

As ruas esquecem, a música segue,

A vida é cruel em sua repetição,

Outras promessas, outras febres,

A roda da noite em contínua ilusão.

Mas quem parar pra pensar no passado

Talvez veja um vulto entre a neblina,

Um eco distante, um grito abafado,

Um rosto perdido na esquina.

Era só diversão, sem medo, sem laço,

Era só uma noite qualquer,

Mas o tempo, esse velho carrasco,

Mostrou que o acaso não quer saber.

O jogo da vida não tem garantia,

As cartas viram sem previsão,

A diversão se fez agonia,

E a história virou maldição.

Ela queria apenas viver o momento,

Fugir das amarras, das regras, do tédio,

Mas a noite, com seu julgamento,

Selou seu destino sem remédio.