Que amor?

Rebaixa-me, eu peço, até o chão, 

Para caber no espaço do teu peito, 

Onde pensei encontrar a redenção, 

Mas só achei vazio imperfeito.

Curvei-me aos teus caprichos sem pensar, 

Distorci meu ser, minha essência, 

Buscando no teu olhar, um lugar, 

Mas só encontrei a indiferença.

Cedi meus sonhos, minha razão, 

Na ilusão de ser teu porto seguro, 

Mas teu amor era mera prisão, 

Um cárcere envolto em escuro.

Quis te amar com toda devoção, 

Entreguei minha alma, meu fervor, 

Mas foste sombra na imensidão, 

Que dissipou meu calor.

Os sorrisos que me deste eram falsos, 

Promessas vazias, palavras sem cor, 

Agora vejo os teus gestos rasos, 

No fim, nem era amor.

Eu, que me via em teus olhos castanhos, 

Perdi-me nas mentiras tão sutis, 

Senti o peso de mil desenganos, 

Cada um mais cruel que o que já fiz.

E na dor de ser pouco para ti, 

Afoguei meu orgulho, minha glória, 

Mas tu, sequer notaste o que perdi, 

Roubaste-me até a memória.

Agora sou sombra do que era, 

Um ser vazio, sem brilho, sem luz, 

Deixei-me moldar por tua espera, 

E teu amor foi minha cruz.

Voltei-me contra mim, me odiei, 

Por acreditar que eras o meu bem, 

Mas agora sei que nunca amei, 

O que havia ali era um refém.

Refém do teu desejo mesquinho, 

Que usou do meu amor para te erguer, 

Agora vejo o quanto fui sozinho, 

No mundo que criei para te ter.

Não, não era amor o que senti, 

Era ilusão, uma farsa que criei, 

Agora, enfim, me libertei, 

Do pesadelo em que me envolvi.

Volto a mim, embora quebrado, 

Peço à vida uma nova canção, 

Que me faça esquecer do passado, 

E cure de vez meu coração.