Retrato em Três Tons

Chegou o terceiro, risonho e sereno,

Mas no olhar dela, um mundo pequeno.

Alegria encenada, tristeza real,

Num ciclo que insiste em ser tão desigual.

De pais distintos, histórias partidas,

Três corações, três rotas perdidas.

Ela sorri, mas o peito é um nó,

Caminha entre muitos, mas segue só.

As escolhas pesaram, os dias também,

Corpo tão belo, mas sem um além.

Do espelho reflete a pura beleza,

Mas dentro só há dor e incerteza.

Entregou-se sem freios, sem reflexão,

Por carência, impulso ou paixão.

Cada noite um enredo maldito,

Cada manhã, um arrependimento infinito.

Amor não veio, só promessas vãs,

Beijos vazios, promessas tão sãs.

E os filhos, anjos de luz e esperança,

Pagam o preço da sua andança.

Queria um conto de fadas no fim,

Mas a vida mostrou outro jardim.

Onde as flores murcham sem atenção,

E o solo é seco, sem compaixão.

Entre fraldas, contas e silêncio,

Ela sonha um amor mais propenso.

Mas já cansou de esperar o tal príncipe,

Só restou o tempo e o lápis.

Escreve num caderno o que não diz,

Versos de dor e cicatriz.

Cada linha um grito contido,

Cada estrofe um pedido perdido.

A família julga, os vizinhos falam,

Mas não sabem dos dias que calam.

De noites sem sono, de medo, de choro,

De ter tudo, mas faltar o socorro.

Ela não é santa, mas também não vilã,

Só mais uma alma pedindo manhã.

Caminha errante, mas quer direção,

Mesmo tropeçando em cada ilusão.

Quem vê de fora não entende o porquê,

De um corpo tão belo viver sem um “você”.

Mas beleza não cura desilusão,

Nem preenche o vazio do coração.

Se pudesse voltar, mudaria o enredo,

Não por vergonha, mas por segredo.

De querer ser forte, mãe e mulher,

Sem carregar o peso do que não quer.

Agora é tarde pra lágrimas secas,

Mas nunca é tarde pra rotas mais retas.

Ela acorda, se olha, respira fundo,

Ainda há tempo de mudar o mundo.

Que os filhos cresçam e vejam ali,

Uma mulher que soube cair…

Mas que também soube levantar,

Mesmo sem aplausos para recomeçar.