Veredas de Rosa

No vasto chão do sertão bravio,

Onde o sol queima e o tempo espreita,

Nasceu um verbo forte e arredio,

Que a língua dobra, mas nunca enfeita.

Com Riobaldo e seu labirinto,

Desenhou o amor e o acaso,

Fez de um jagunço um labirinto,

De um pacto incerto, o mais puro caso.

No rio das palavras, a prosa dança,

Feito reza, feitiço ou revoada,

Tecer sentidos é sua andança,

Cada frase, uma vereda encantada.

Sertão é dentro, e fora, e tudo,

É sina, escolha e travessia,

No verbo arisco, no olhar miúdo,

No homem só, que enfrenta o dia.

A morte espreita, a vida ensina,

O diabo é risco, é só metáfora,

E no compasso da sina fina,

O homem ergue sua alegoria.

Se fez doutor, se fez errante,

Em cada conto, um mundo inteiro,

Criou Miguilins de olhar distante,

Com alma limpa e ar certeiro.

Seus bois falavam, seu vento uivava,

Seu sertão nunca era pequeno,

A cada frase, a terra pulsava,

Na pele quente, no passo ameno.

Longe do óbvio, fugiu do raso,

Na fontezinha do idioma,

Fez de um vocábulo um vasto caso,

Cada palavra, um mar que assoma.

Seus jagunços pensam, duvidam,

Mais que bala, pesam escolhas,

Na guerra seca que os dividia,

O medo dança entre as folhas.

O que é o mundo? — ele perguntava,

E as respostas não eram poucas,

Um rio, um risco, a voz calada,

A vida sempre em curvas loucas.

“Viver é perigoso”, ele disse um dia,

Com o sorriso de quem já sabe,

Que na poeira da travessia,

Só resta a fé que nunca cabe.

Fez-se poeta sem ser rimado,

No torto curso da narração,

E se o sertão é vasto e encantado,

Foi ele quem lhe deu a mão.

Sertão sem fim, sem mapa exato,

Que Rosa, em prosa, desenhou,

E quem se perde nesse relato,

Na língua viva se encontrou.

E hoje, no vento, na terra ardente,

Na curva seca de um olhar,

Ainda ecoa essa voz presente,

Que nos ensina a caminhar.

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